PERFIL: Merkel, a "Rainha da Europa"

Em teoria, o rosto da liderança europeia é Herman van Rompuy, primeiro presidente do Conselho Europeu, cargo criado pelo Tratado de Lisboa, em vigor desde 2009. Mas como da teoria à realidade vai por vezes uma grande distância, quem mais se tem afirmado como líder dos governos da UE é Angela Merkel, a chanceler alemã, que nestas legislativas conseguiu um terceiro mandato consecutivo. O resultado de hoje coroou Merkel como uma espécie de nova "Rainha da Europa".
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Governante da maior economia da UE, a líder democrata-cristã já foi apelidada de Dama-de-Ferro, czarina, Hitler e até de praticante de Merkiavelismo, um conceito que é uma mistura de Merkel e Maquiavel e foi inventado pelo académico Ulrich Beck. Maquiavel, no Príncipe, questionava-se se era melhor ser amado ou temido.O melhor é ser ambas as coisas, respondia depois, sugerindo que se tal não fosse possível, então o melhor era ser temido, primeiro, deixando para depois o ser amado. Ulrich Beck, professor de sociologia da Universidade de Munique e da London School of Economics, considera que Merkel descobriu uma nova forma de aplicar este princípio de Maquiavel: sendo temida no estrangeiro mas amada na Alemanha.

Os alemães não veem com bons olhos o facto de terem de suportar programas dos países sob resgate, sobretudo os da Europa do Sul, como Grécia ou Portugal. Mas a verdade é que muitos deles também não gostaram nada de ter de pagar o preço da reunificação alemã. O imposto de solidariedade destinado a esse efeito ainda hoje é tema controverso. Enquanto outros se afundam, a Alemanha prospera, porque já fez as suas reformas e os outros ainda agora começaram a implementá-las. É a ideia que faz passar Merkel. A alemã que há 59 anos nasceu em Hamburgo, na Alemanha Ocidental, cresceu do outro lado do muro, em Templin, na ex-RDA.

Filha do pastor luterano Horst Kasner e da professora de inglês e latim Herlind Jentzsch, Angela Dorothea Kasner estudou física na Universidade de Leipzig. Foi aí que conheceu o seu primeiro marido, Ulrich Merkel, de quem herdou o sobrenome que usa até hoje. Isto apesar de ter casado depois com o professor de química Joachim Sauer, que conheceu em 1981, um ano antes do divórcio. Merkel e Sauer não têm filhos em comum e o marido da chanceler gosta pouco de aparições públicas.

A mais velha de três irmãos, os outros são Marcus e Irene, Merkel tem o sangue polaco do avô. Integrou, tal como muitos estudantes, a Juventude Livre Alemã e graças a ter vivido na ex-RDA aprendeu a falar russo corretamente. Daí que, muitas vezes, demonstre até maior facilidade de comunicação com o Presidente russo Vladimir Putin do que com certos líderes da UE. No dia em que o muro de Berlim caiu, não alterou os seus planos, foi à sauna. Ainda bebeu uma cerveja e só depois resolveu ir ver o que aquele burburinho nas ruas significava.

No final de 1989, Merkel envolveu-se no movimento Despertar Democrático e, no ano seguinte, nas primeiras eleições pós-reunificação, foi eleita como deputada para o Bundestag e integrou o terceiro Executivo de Helmut Kohl como ministra da Juventude. Em 1994 chegou a ministra do Ambiente e da Segurança Nuclear. Como a ministra mais jovem, era protegida do chanceler e apelidada por ele como "a minha menina".

Quando Kohl foi derrotado por Gerard Schröder em 1998, Merkel assumiu o cargo de secretária-geral da CDU e, dois anos depois, no meio de um escândalo sobre financiamentos, que salpicou vários membros do partido democrata-cristão, assumiu a liderança do mesmo. Liderança que vê incontestada há 13 anos, sendo sempre reeleita com elevadas percentagens e longos aplausos. Quando chegou a chanceler alguns media notaram a sua falta de cuidado com a aparência. Algo de que Merkel tratou de cuidar, tentando contrariar o seu ar cinzento com blazers de mil cores, malas coloridas de marca e colares dos mais variados feitios.

Houve um que fez furor há pouco tempo: o que usou, com as cores da bandeira alemã, durante o único debate televisivo que travou com o seu rival social-democrata Peer Steinbrück. À falta de consenso entre comentadores e sondagens sobre o vencedor do frente-a-frente, os internautas alemães resolveram contribuir para um veredicto através do Twitter. Nesta rede social o assunto mais comentado do debate foi o colar de Merkel e, por isso, o vencedor.

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